Em 2050, as pessoas acima dos 65 anos representarão um terço da população do planeta. E esse é o grupo mais suscetível a males marcados pela destruição dos neurônios, como o Alzheimer. A projeção é que ele afete 135 milhões de indivíduos daqui a três décadas. Alguns problemas, por outro lado, afligem o cérebro independentemente da idade. É o caso da depressão, que faz milhões de vítimas pelo mundo e deve ser o transtorno mais incapacitante do globo em 2020. Os números assustam e pedem que não fiquemos parados. De verdade: exercitar-se com regularidade já configura uma medida cientificamente comprovada para prevenir e controlar doenças que consomem a massa cinzenta.
Quem perde com o sedentarismo é o cérebro. Além de melhorar o abastecimento de sangue, oxigênio e nutrientes, a atividade física pode fazer a cabeça trabalhar de forma mais ágil e prepará-la para enfrentar tanto doenças neurodegenerativas como psiquiátricas.
Durante a atividade, há um aumento na liberação da substância BDNF (sigla em inglês para fator neurotrófico derivado do cérebro), envolvida na produção, conservação e funcionamento das células nervosas. Níveis mais altos de BDNF, que podem se manter elevados até oito horas depois do exercício, estão associados à proteção contra diversos problemas.
Cientistas descobriram recentemente que um hormônio fabricado pelos músculos durante o exercício tem potencial para reverter a perda de memória característica do Alzheimer – feito que nenhum medicamento alcançou até o momento. Batizado de irisina, ele foi identificado pela primeira vez em 2012 e atua na regulação do metabolismo corporal.
Agora é alvo de estudos por seu papel de socorro ao cérebro. Pode estar aí uma das chaves moleculares que explicam o poder dos exercícios não só para a prevenção como para o tratamento dessa e de outras doenças.
Exercício vira remédio:
As evidências do impacto positivo da atividade física no controle de problemas neurológicos não se resumem a Alzheimer. Pessoas com condições crônicas como epilepsia, esclerose múltipla e enxaqueca também têm a ganhar com um treino prescrito e supervisionado.
As indicações estão cada vez menos genéricas. A tendência é traçar as modalidades mais compatíveis e personalizar o treinamento. Em geral, o benefício vem com o tempo de prática e com a constância – não adianta se exercitar umas semanas e depois parar – sempre respeitando, claro, as possíveis limitações.
Manter uma vida ativa antes de qualquer desordem cerebral se manifestar é o melhor dos cenários. Assim se cria uma reserva cognitiva, nome para a capacidade de a massa cinzenta lidar com eventuais danos e se adaptar a eles. Em pleno século 21, nunca foi tão importante se mexer pelo bem da cabeça – inclusive se ela já é alvo de uma doença, como você verá a seguir.
1) Alzheimer
Muito ligado à perda da memória, é o tipo mais comum de demência no Brasil, onde afeta 1,2 milhão de pessoas. A atividade física já é associada à diminuição do risco de desenvolver a doença, mas pode ajudar também a desacelerar sua progressão. Isso porque induz transformações no cérebro para compensar a devastação de neurônios – fenômeno que, entre outras áreas, afeta o hipocampo, responsável pelas memórias recentes. Os exercícios aeróbicos, como caminhadas, parecem ser os mais indicados.
2) Parkinson
Nada melhor do que o exercício para estimular a produção natural de dopamina, neurotransmissor em falta no cérebro de quem tem Parkinson, desordem caracterizada por rigidez, tremores e outras alterações motoras. As modalidades intensas, sob a supervisão de um especialista, podem ser particularmente úteis.
3) Esclerose múltipla
Essa doença autoimune corrói a bainha de mielina, camada que protege os nervos para que se mantenha a condução dos impulsos elétricos, em que há prejuízos para se movimentar, enxergar etc. Uma vantagem do exercício é seu efeito anti-inflamatório, aliado inclusive na prevenção de males que podem se aproveitar do transtorno, caso da osteoporose, da obesidade e das doenças cardiovasculares. Déficits cognitivos e quadros depressivos também são menos comuns ou amenizados na rotina de quem leva uma vida ativa.
4) Epilepsia
A atividade física era contraindicada a portadores da doença, que é mais conhecida pelas convulsões. Temia-se que ela fosse gatilho para as crises, mas uma série de estudos foi feita desde então e sabemos agora que o exercício é seguro e mesmo treinos exaustivos não desencadeiam esses episódios. Pelo contrário: a prática regular e orientada por um profissional da saúde parece reduzir o número de ataques e equilibrar o cérebro.
Atividades aeróbicas de baixa intensidade são as mais estudadas, mas mesmo musculação e natação podem ser realizadas – só é preciso que as crises estejam controladas e haja supervisão durante a prática. As vantagens do esporte se aplicam a quase todos os tipos de epilepsia. A exceção fica por conta da epilepsia reflexa, que ocorre durante a exposição a luzes ou a outros estímulos, como o movimento corporal.
É evidente que a prática de atividades físicas por portadores de doenças neurológicas precisa ser feita sob orientação médica e supervisão de um profissional. Procure um médico e siga as orientações para o seu caso em particular.
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